A Semana Mundial de Sensibilização para o Uso de Antibióticos é comemorada todos os anos em Novembro com o intuito de melhorar a compreensão da resistência antimicrobiana (RAM) na Região Africana e no resto do mundo.
“Usar antibióticos com cuidado” é o temo deste ano e pretende destacar a necessidade de utilizar estes medicamentos de forma segura e responsável em todos os sectores, desde a agricultura e a pecuária à saúde pública, e mitigar os impactos da poluição antimicrobiana na água e no solo.
Um evento de sensibilização regional de uma semana está a ter lugar em Nairóbi, convocado pelo Secretariado tripartido da Região Africana (a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a Organização Mundial da Saúde Animal e a Organização Mundial da Saúde), co-organizado pelo Gabinete Interafricano para os Recursos Animais, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças e o Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
A RAM põe em perigo a segurança sanitária e os progressos realizados para a consecução da cobertura universal de saúde ao ameaçar reverter os avanços médicos do século XX. Compromete a nossa capacidade de tratar patologias como a pneumonia, a tuberculose, a gonorreia e o cancro. A RAM ameaça igualmente a nossa capacidade de praticar cirurgias e prestar cuidados de saúde a prematuros.
Esta pandemia silenciosa já é responsável por 700 000 mortes todos os anos e, se não for contida, a RAM pode vir a ser a causa de cerca de 10 milhões de mortes por ano até 2050. As populações dos países em desenvolvimento e as pessoas em situações instáveis, afectadas por conflitos e violências, são as mais vulneráveis.
Assistimos a uma resistência crescente dos agentes patogénicos comuns aos antibióticos, tais como 98% de estirpes de Escherichia coli resistentes à fluoroquinolona, o que significa que as opções de tratamento estão a tornar-se limitadas para as pessoas que contraem estas infecções. Os principais desafios na luta contra a RAM incluem: sistemas reguladores fracos que facilitam a proliferação de medicamentos falsificados e de baixa qualidade; uma implementação limitada de normas para o abastecimento de água potável, saneamento e higiene, e de planos de acção para prevenir e controlar as infecções; e a falta de dados fiáveis.
A OMS e os seus parceiros estão a trabalhar com os países para ultrapassar essas dificuldades com a implementação dos planos de acção nacionais “Uma Só Saúde”. Esses planos reúnem diferentes sectores e disciplinas com o objectivo de criar sistemas reguladores mais resilientes, melhorar o sistema de vigilância e desenvolver políticas para promover o uso adequado de antibióticos nos seres humanos, nos animais e na agricultura.
Na Região Africana, 9 dos 47 países já têm grupos de trabalho multissectoriais funcionais para a RAM e 19 dos países já integraram o Sistema de Vigilância Mundial da RAM (GLASS). Vinte e quatro países já têm legislação que regula a prescrição e venda de agentes antimicrobianos para uso humano e seis têm sistemas de monitorização para o consumo e uso racionais de agentes antimicrobianos na saúde humana. Juntos, precisamos de acelerar a acção para reduzir a prevalência crescente das infecções resistentes aos medicamentos.
O uso indevido de antibióticos põe-nos a todos em risco. É por isso que apelo hoje a que todos envidem mais esforços para manusear os antibióticos com cuidado:
- Os governos podem financiar planos de acção nacionais de forma adequada, promover a governação da RAM, facilitar a colaboração multissectorial e aumentar o acesso à água potável e ao saneamento.
- Os pacientes deveriam apenas usar antibióticos quando receitados por um profissional de saúde.
- Os agentes comunitários de saúde devem sempre aplicar as práticas de prevenção e controlo das infecções e apenas receitar e dispensar antibióticos quando é mesmo necessário.
- O sector privado pode investir na investigação e desenvolvimento de novos antibióticos.
- A indústria agrícola pode reduzir o uso de antibióticos na pecuária.
Trabalhar juntos e adoptar uma abordagem holística para salvaguardar os antibióticos são acções que ajudarão a garantir que todos possamos ter um futuro melhor.
Saiba mais:
Antimicrobial resistance and primary health care: technical series on primary health care, WHO, 2018